“Eu, porém, serei como a oliveira em flor junto da Casa de Deus; confio na misericórdia de Deus para todo o sempre.” (Salmo 52:8).
Talvez muitos não saibam que o Pastor Teotónio Cavaco do Norte amava a poesia, fez poesia e declamava com mestria. Os amigos e os irmãos que lhe foram chegando mais tardiamente, desconhecerão esta faceta, então eu achei que ir aos Salmos e começar com este versículo as linhas que irei escrever sobre ele, seria a melhor forma de o descrever.
Nasceu pobre numa família que já conhecera a abundância, de uma mãe pequenina em tamanho, mas de coração enorme. De seu nome Felicidade, ela escolheu, aceitou e amou Jesus de uma forma tão real, que a levou a criar este filho de uma forma feliz, não obstante a escassez de recursos, muito provocada também por um pós-guerra difícil em que se vivia.
O amor pelas crianças e por sua evangelização, foi fruto da sua própria história de conversão. Centenas de vezes o ouvi contar daquele grupo de rapazes, todos pobres como ele, que se apaixonaram por Cristo, lá na Igreja Evangélica Baptista da Marinha Grande, sua terra natal.
A história da Aliança Pró-Evangelização de Crianças (APEC) em Portugal, começa a escrever-se com a vida destes rapazes e com a chegada ao nosso país da amada irmã Violeta M. Lopes, missionária da APEC.
A sua conversão ao Senhor foi de tal maneira real e convicta, que deste grupo de miúdos saíram homens valorosos na Evangelização do nosso país.
Foi também na sua Igreja da Marinha Grande que se iniciou um percurso longo de uma vida totalmente ligada ao Mestre e Senhor de sua vida.
Ele soube sempre que Servir e Seguir a Cristo não seria um caminho fácil, mas ele abraçou-o de maneira tal, que em toda a sua vida ele repetiu ter sido essa a sua mais importante decisão! O amor a Cristo e a sua sede de O dar a conhecer a toda a criatura, pautou todo o seu percurso.
Ouvimo-lo afirmar que não acreditava na definição populista de destino como algo marcante que está traçado e ao qual fatidicamente ninguém pode fugir. Mas acreditava, isso sim, e foi o que pregou, que quem aceita e reconhece o sacrifício de Cristo na cruz para remissão de seus pecados, tem sua vida nas mãos de Deus. Sim, era Deus que dirigia sua vida!
Gostava tanto de ser capaz de contar um pedaço de cada etapa da sua vida! Nestas poucas linhas seria utópico mas considero muito importante que o testemunho de uma vida dedicada a Cristo e ao Seu serviço, deveria ser escrito para que muitos seguissem suas pisadas.
O Culto de Louvor e gratidão a Deus pela sua vida, ontem (19/10), foi um marco para mim que tenho vivido mais de sessenta anos da sua história!
Seu filho que o seguiu no Pastorado da última igreja que pastoreou, disse e bem: “não foi perfeito! Ele sabia que não somos perfeitos, mas pregava que Cristo nos vai aperfeiçoando”.
Fui sua ovelha na primeira Igreja que pastoreou, logo, tive o privilégio de conhecê-lo no viço da sua tenacidade na Obra do Mestre.
Quando o seu ministério na Igreja Evangélica Baptista de Tondela estava num crescendo extraordinário, o Pastor Cavaco foi chamado por Deus para bem longe – pastorear a Igreja Baptista de Nova Lisboa em Angola.
Naquele momento, como não podia voltar-me contra a chamada do Mestre, fiquei muito dorida com a quele Cavaco que nos levava para tão longe a irmã e os sobrinhos tão amados! Mas esta dor era só humana. A vontade do Senhor tinha-se tornado também para mim, a primeira e única a ser feita, e este sentimento também me tinha sido passado por ele, meu cunhado e pastor.
O trabalho que a irmã (minha e nossa) Manuela e ele realizaram por terras de África, enchia de gratidão a Deus, os nossos corações. As fotos das Classes de Boas Novas com mais de cem crianças, eram o perfeito lenitivo para a saudade que deixaram.
A hora do regresso foi de estupefação total, tal como tinha sido a hora da partida. No entanto conseguíamos ver a mão do Mestre a dirigir aquelas vidas.
Figueira da Foz foi a terceira etapa da vida do Pastor Cavaco. O vigor empenhado no seu primeiro pastorado, a destemida obra em Angola, não tiraram o alento para começar do nada, o trabalho evangelístico nesta bela cidade.
Fui também ovelha do seu último pastorado! A oliveira continuou a dar flor junto da Casa de Deus.
Ao olhar para os meus queridos irmãos da Igreja Baptista da Figueira da Foz nestes últimos tempos, eu consegui traduzir a vida do Pastor Cavaco nas lágrimas tão lindas e sentidas, desde a mais pequena criança, dos adolescentes, dos jovens, dos de mais idade.
Muitos foram ovelhas, como eu, do seu pastorado durante muitos anos. Havia nisso causa para aquelas lágrimas tão lindas!
Mas quando senti as lágrimas de meus irmãos que só chegaram a nós há pouco mais de um ano, aí eu fiquei ainda mais ciente que a vida do Pastor Teotónio Cavaco do Norte foi uma vida que valeu a pena ser vivida.
A razão desta realidade está no poema que ele certamente declamaria com vigor e sentimento:
“Eu, porém, serei como a oliveira em flor junto da Casa de Deus; confio na misericórdia de Deus para todo o sempre.” (Salmo 52:8)
A Deus toda a Glória!
Maria Madalena Úria
